Sedentarismo, má alimentação, abuso do álcool, insônia, danos psicológicos e prejuízo às relações de trabalho são consequências do trabalho à distância
Finda a fase aguda da pandemia e a imposição do distanciamento social, muitas empresas optaram, por questões financeiras ou logísticas, manter seus colaboradores no sistema de trabalho remoto online ou híbrido. Agora, diversos órgãos franceses de prevenção de riscos no trabalho alertam sobre os perigos inerentes ao teletrabalho, em especial aos danos psicossociais.
Em primeiro lugar, os órgãos competentes apontam que os colaboradores em teletrabalho têm um engajamento baixo em novas tarefas. Nas palavras de François Cochet, presidente de uma das federações de trabalhadores franceses, quem faz trabalho remoto geralmente está “ocupado com o trabalho de ontem”, diferente dos que vão aos escritórios, que conseguem ter uma visão mais abrangente e se ocupam do trabalho “de amanhã”.
Se o colaborador está perto de se aposentar, o problema não é tão grave. Mas para as novas gerações, ele não consegue adquirir a cultura da empresa à distância, fica desestimulado e se torna um elo frágil na manutenção do emprego em caso de reestruturação, por exemplo. Em caso de cortes, é no colaborador que tem menos vínculo que vão pensar primeiro. Ficou muito difícil para os mais jovens ter um plano de carreira para os próximos 5 anos.
O trabalho remoto cria também um novo tipo de conflito. Como a comunicação entre colaboradores e chefes não é feita olho no olho, mas sempre por intermédio de e-mail, mensagem ou reunião virtual, perde-se a chance de pontuar diferenças, ampliando a possibilidade de desacordo e maus entendidos.
Um terceiro ponto de risco insidioso é o de aumento das adições ao álcool e ao tabaco. Especialistas ressaltam que, diante das regras restritivas, os colaboradores precisam levantar-se de suas mesas para fumar em área externa delimitada. Em casa, com a possibilidade de fazer uso do espaço como bem entender, o aumento de consumo de cigarros é visto como inevitável. O mesmo é considerado para a ingestão de bebidas alcoólicas – maiores quantidades e com mais frequência – e medicamentos.
Outro ponto de preocupação é com o sedentarismo. Em muitos casos, o único exercício que os colaboradores faziam no dia era a caminhada até o escritório ou ao ponto de transporte público. Agora, nem isso: permanecem sentados a maior parte do tempo dentro de casa.
Também é inevitável pensar que apartamentos residenciais não foram planejados para servir de escritório improvisado. Toda casa tem seu ritmo e dinâmica próprias. Introduzir um local de trabalho onde vive uma família oferece alto potencial de conflito com cônjuge e filhos.
O teletrabalho foi uma conquista quando a presença física era um perigo. No entanto, ela agora se torna um risco à saúde. Está provado que um estilo de vida saudável é o melhor aliado à longevidade com autonomia. Por isso, ter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas com regularidade, evitar bebidas alcoólicas e o cigarro, ter noites de sono reparador, manter o peso adequado e fazer exames preventivos são fundamentais. No âmbito corporativo não podemos esquecer dos momentos como a pausa para o café, a risada e o abraço entre os colaboradores.
Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. É diretor da MedRio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).