O estilo de vida pouco saudável e as doenças que possam derivar dele são mais relevantes que a genética num eventual quadro de demência
Uma das conclusões mais evidentes da pandemia de coronavírus foi a relevância do estilo de vida saudável para se evitar as doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças pulmonares e cardíacas. As estatísticas mostraram que quem mais padeceu com o vírus foram aqueles quem sofria comorbidades.
Agora, estudo realizado com mais de 200 mil britânicos, publicado na revista científica The Journal of the American Medical Association, comprovou a relação do aumento do risco de demência, como o Alzheimer, com a multimorbidade (quando a pessoa tem, ao mesmo tempo, duas ou mais enfermidades, como hipertensão, diabetes, hipóxias cerebrais geradas pela apneia do sono…
Os pesquisadores acompanharam os dados de pacientes por até 15 anos. Neste período, 6.182 participantes desenvolveram demência. A incidência foi de 1,87 por 1.000 pessoas sem multimorbidade e subiupara 3,41 para quem tinha quadro de duas ou mais doenças crônicas. O estudo concluiu que os pacientes com mais de uma comorbidade eram, em sua maioria, mulheres mais velhas, não brancas, com menos escolaridade e moradoras de regiões mais pobres.
Entre os homens, a combinação de comorbidades mais perigosa à saúde é diabetes e hipertensão ou doença cardíaca, hipertensão e AVC. Já entre as mulheres, o mais danoso é o quadro que combina hipertensão e AVC. Já entre as mulheres, o mais danoso é o quadro que combina hipertensão, doença coronariana e diabetes.
Ao contrário do que muita gente acredita, a demência e o Alzheimer não são causados, exclusivamente, por herança genética. Os números da pesquisa mostram que os pacientes com multicomorbidades sem fator genético tem um risco maior de desenvolver demência até mesmo perante aqueles que não tem mais de uma comorbidade. Dessa forma, o estilo de vida e as eventuais doenças que possam derivar dele passam a ser tão relevantes quanto a genética num eventual quadro de demência.
Quem monitora a pressão, cuida do diabetes ou mesmo evita essas doenças, está se prevenindo de maneira efetiva do processo de demência. Mas é inquestionável que a melhor prevenção ainda é a saúde: antecipar e prevenir é melhor que diagnosticar e tratar. Praticar exercícios físicos regulares, alimentar-se bem, dormir sonos reparadores à noite, evitar o tabagismo, o excesso de sal e açúcar e manter os exames periódicos em dia são os maiores aliados da longevidade com autonomia.
Envelhecer não é uma escolha. Este é um caminho irreversível para todos nós enquanto estamos vivos. Mas a forma como iremos envelhecer, essa sim, é uma decisão individual e consciente. Colocar mais saúde em nossas vidas, no cotidiano, é a garantia de um envelhecimento sem comorbidades ou demência.
Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco), e Saúde é prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-up.