Sequelas exigem atenção nos meses seguintes após a infecção
Contabilizados quase 17 milhões de brasileiros recuperados de Covid-19, os olhos da ciência se voltam, cada vez mais, para o tratamento das sequelas de um número tão grande de pessoas. É o que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos chama de “condições pós-Covid”. Pesquisas e estudos já foram capazes de identificar danos neurológicos, respiratórios, cardíacos, motores e psiquiátricos a partir de quatro semanas após a primeira infecção e atestam que efeitos no pulmão, no coração e no cérebro podem persistir por meses depois de passada a fase aguda da doença.
Em janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu um novo capítulo em suas recomendações para a prática médica envolvendo a Covid-19, dedicado apenas ao cuidado de pacientes posterior à doença aguda. O impacto da doença no organismo pode ser tão variado de pessoa para pessoa que hoje a reabilitação pós-Covid é quase uma especialidade médica, afirmam vários profissionais de saúde.
Portanto, tendo em vista os principais órgão e sistemas afetados pela Covid-19, seguem alguns pontos de atenção para quem contraiu o vírus nos meses seguintes à recuperação:
- Cuidados com pulmão: O sistema respiratório é um dos mais afetados pela doença. De acordo com a revista científica Nature, até 30% dos pacientes com Covid relataram falta de ar nos meses seguintes à fase aguda da doença. Exames de imagem, além do teste de esforço e provas da função pulmonar, seguidos de uma avaliação médica, podem dar o diagnóstico exato do impacto do vírus no sistema respiratório.
- Não descuidar do coração: O coração também é um dos órgãos mais impactados pelo coronavírus. Para quem contrai a doença, é difícil identificar, sem ajuda médica, se alguma dificuldade de realizar um determinado esforço ou atividade é em decorrência de uma fraqueza muscular, de uma incapacidade respiratória ou de uma limitação cardiovascular. Ainda de acordo com a revista Nature, outros sintomas de Covid a longo prazo no coração são dor no peito e palpitação, possíveis indícios de fibrose miocárdica, arritmias e miocardites.
- Impactos neurológicos: A Unicamp tem se dedicado a monitorar a consequência da Covid-19 no cérebro. Em estudo preliminar com pessoas que tiveram Covid de forma branda e se recuperaram, exames clínicos e testes cognitivos concluíram que 40% dos pacientes ainda apresentavam dor de cabeça, 40% tinham fadiga, 30% alteração de memória, 28% sofriam de ansiedade, 20% de depressão, 16% tinham perda de paladar e 28% de olfato. No entanto, grande parte das disfunções neurológicas mais sutis não se apresentam em imagens. Por isso, a avaliação de um profissional médico é recomendada. De acordo com a Unicamp, a maior implicação dos danos neurológicos será sentida na volta das pessoas ao trabalho, especialmente por conta da dificuldade de concentração e da falta de memória.
- Fazer exames preventivos: Por tudo isso, tendo em vista que a Covid-19 incide individualmente, um check-up geral é recomendável para se mensurar o impacto da doença no funcionamento dos principais órgãos e receber orientação especializada.
5) Mais qualidade de vida: A melhor resposta à Covid-19 ainda é estilo de vida saudável: fazer exercícios físicos, alimentar-se bem, consumir álcool com moderação, evitar o cigarro e dormir um sono reparador são aliados simples e baratos na manutenção do bem-estar e da qualidade de vida.
Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a MedRio Check-up, líder brasileira em check up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).