Especialista em sono conta como a pandemia alterou a qualidade das horas de repouso

Noites mal dormidas colaboram para doenças como diabetes, hipertensão, obesidade e cardiopatia. Internet/Reprodução

A MedRio Check Up está comemorando 30 anos de funcionamento. Para marcar efeméride tão importante, criamos uma agenda de “Encontros Científicos com a Prevenção”, que acontecem uma vez por mês, abordando diferentes especialidades médicas. Neste mês de agosto, o convidado para o nosso encontro foi o médico Flávio José Magalhães da Silveira.

Boa leitura! – Gilberto Ururahy

A importância do sono reparador

Noites de sono ruins podem acabar desencadeando doenças crônicas. A afirmação é de Flávio José Magalhães da Silveira, especialista em Pneumologia e Medicina do Sono (SBPT/AMB), graduado em Medicina pela UniRio, pós-graduado em Pneumologia pela Universidade de Londres e diretor médico do SleepLab.

Conversamos com Flávio sobre este e outros assuntos:

O que é um sono reparador?

É aquele sono do qual se acorda satisfeito, independente das horas dormidas. É quando a pessoa acorda feliz, sem apresentar sinais de sonolência e nem insatisfação. Uma boa noite de sono é a própria definição da felicidade.

Quais são os indícios de um sono reparador?

Qualidade não significa quantidade. Bons indícios de uma boa noite de sono são: se você dorme em, no máximo, 30 minutos após se deitar; se é capaz de dormir o número de horas recomendadas para sua idade; se tem um sono contínuo e só acorda 1 vez por noite; caso desperte, se é capaz de dormir novamente em menos de 20 minutos; e se ao acordar de manhã sente-se descansado e energizado.

Quais são os riscos para a saúde de quem dorme mal?

Segundo estudos, existem riscos de obesidade, diabetes, cardiopatia, acidente cardiovascular, hipertensão arterial e depressão.

Que comportamentos podem influenciar para que o sono não seja reparador?

A própria vida moderna, com seus apelos para se manter conectado ou considerar que dormir é perder tempo de vida. O celular na cama, a televisão no quarto, a luz, o barulho, manter o relógio na cabeceira da cama, tudo isso são inimigos do sono.

Qual a incidência no Brasil da apneia obstrutiva do sono e quais são seus sintomas?

A apneia é o maior “ladrão” da qualidade do sono. Às vezes o paciente dorme um número de horas suficientes, mas já acorda cansado porque a apneia interfere na qualidade do sono, atrapalhando a fase em que o sono é profundo, o sono reparador. Segundo estudo, cerca de 32,9% da população brasileira sofre de apneia, sendo 40,6% em homens e 26,1% em mulheres. No mundo, a estimativa é de que até um bilhão de pessoas padeçam da doença. Os principais sintomas da apneia do sono são: ronco perturbador; pausas respiratórias presenciadas; sono não-restaurador; sonolência diurna excessiva; IMC alto; circunferência do pescoço acima de 42cm em homens e acima de 38cm nas mulheres; idade; hipertensão e vontade excessiva de urinar à noite.

Uma boa noite de sono colabora para se manter distante de quais doenças?

O indivíduo tem menos chances de doenças do coração, mantem um controle melhor sobre a pressão arterial, evita obesidade e diabetes, além de melhorar a disposição e a memória.

O quanto o sono é responsável por colaborar com um estilo de vida saudável?

O tripé da saúde está ancorado em: sono reparador, alimentação saudável e prática regular de exercícios. Estes três elementos são os grandes responsáveis por uma vida saudável.

O quanto a pandemia interferiu na qualidade do sono?

A pandemia alterou tudo, não apenas o sono, mas também a alimentação e o sedentarismo. Trata-se de um período muito devastador e a maioria das pessoas tiveram reflexo na qualidade do sono. As pessoas passaram a consumir mais bebida alcoólica e o álcool é um aparente indutor de sono, mas é um péssimo veículo para a qualidade do sono. Não só a pessoa ronca mais e faz mais apneia, como o álcool também interfere na profundidade e estrutura normal do sono.

Qual a importância do check-up para a qualidade do sono?

O check-up consegue identificar muitas doenças as quais o paciente não tem conhecimento. Isso promove, imediatamente depois dos exames, a chance de intervenção médica e de a doença ser superada. O check-up, portanto, é a porta da vida saudável. Daqui a dez ou quinze anos, a indústria do bem-estar irá superar em muito a indústria da doença.