Se o estilo de vida imposto à população em 2020 se mantiver por prazo longo, em pouco tempo estaremos diante de novas pandemias de doenças crônicas. Evanto/Reprodução

 

Um fato curioso – e inédito – está sendo constatado nas dezenas de check-ups que a MedRio realiza todos os dias, há mais de 30 anos: quando comparamos os exames do mesmo paciente feitos agora, neste começo de 2021, com os exames que foram realizados no começo de 2020, parece que estamos diante de pessoas muito diferentes. Apesar da passagem de tempo relativamente pequena, 2020 foi um ano intenso e quem pagou o preço, na maioria dos casos, foi a saúde.

A mudança de comportamento está sendo profunda em plena pandemia. Pessoas antes ativas se tornaram sedentárias, o consumo de álcool aumentou significativamente, a qualidade do sono caiu e exames preventivos deixaram de ser feitos. Agora estamos tendo a dimensão do tamanho do impacto causado pela rápida alteração de rotina na vida dos pacientes.

Toda vez que o corpo humano precisa se adaptar às mudanças, ele dispara uma reação de estresse. Dois hormônios são produzidos: adrenalina e cortisol que regulam nosso organismo. Assim, com o aumento da adrenalina – um potente estimulante – na circulação, muitas pessoas podem apresentar arritmias cardíacas, hipertensão arterial ou insônia. Da mesma forma, quando o cortisol se eleva na circulação sanguínea, o resultado é baixa imunidade, aumento de apetite, ganho de peso corporal e uma porta de entrada a doenças como a diabetes.

Outra ação importante do cortisol é o aumento da depressão na população. A pandemia provoca o medo, incertezas e o cérebro entra em ebulição. Segundo pesquisa do IBGE, cerca de 16 milhões de brasileiros com mais de 18 anos tem quadro de depressão diagnosticado, número bastante elevado se comparado a parâmetros internacionais. Recente matéria do jornal “The Guardian” afirma que 25% dos ingleses estão enfrentando dificuldades psicológicas para lidar com a realidade – é o pior resultado na última década da pesquisa realizada anualmente. Na faixa até 25 anos, 56% relataram episódios de crise de ansiedade.

Quando focamos nas consequências físicas da pandemia, o impacto também é bastante significativo: fadiga intensa, sequelas pulmonares, cardíacas e até mesmo cerebrais (face pequenas isquemias geradas por ação do vírus).

Se o estilo de vida imposto à população em 2020 se mantiver por prazo longo, em pouco tempo estaremos diante de novas pandemias de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial, obesidade, arritmias cardíacas, câncer, além dos transtornos mentais.

Para evitar um quadro mais calamitoso, a prevenção se impõe como valiosa aliada na identificação de fatores de risco à saúde. É aí que o check-up médico periódico faz a diferença, podendo interceder para controla-los ou corrigi-los. Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. É diretor da MedRio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).