As mulheres ampliaram seus domínios e testemunham uma piora no quadro de saúde
O mundo se despediu nesta semana da mulher que permaneceu por mais tempo no trono da realeza britânica. A morte da rainha Elizabeth II, aos 96 anos, causou comoção. Por sete décadas, nos acostumamos a vê-la conduzir com sobriedade e força um dos mais poderosos impérios do planeta. Elizabeth II é um símbolo do lugar ocupado pelas mulheres no século XX e que só tende a se ampliar no século XXI.
Porém, se as mulheres ampliaram seus domínios em diversas áreas com talento, garra e competência, elas foram obrigadas a testemunhar um agravamento dos seus níveis de estresse e piora no quadro de saúde. Além do contexto geopolítico e econômico global, diversas preocupações familiares, profissionais e pessoais as rondam diariamente, como o excesso de conexão ao celular, os estudos, os prazos no trabalho, os filhos, o companheiro ou a companheira, a falta de tempo, as metas ambiciosas e as agendas rígidas.
O resultado é o estresse crônico elevado que elas convivem. As consequências para a saúde são inevitáveis: queda da imunidade, baixo desejo sexual, depressão, esteatose hepática, placas gordurosas nas artérias, aumento do apetite e ganho de peso, retenção de líquidos, bloqueio da ação da insulina, criação de trombos, por exemplo.
Segundo estudo da Universidade de Harvard, 80% de todas as consultas médicas estão relacionadas ao estresse. A maioria das executivas, para se manterem ativas, acabam lançando mão de um “ciclo de estimulantes”: dormem mal, são sedentárias, ingerem muito açúcar, fumam, tomam café ou álcool em excesso. Um ciclo vicioso e muito prejudicial à saúde, que acaba conduzindo às doenças crônicas, como obesidade, esteatose hepática, hipertensão arterial e diabetes, por exemplo. O risco de câncer em mulheres jovens aumentou muito e, vários são os tumores relacionados ao estilo de vida pouco saudável: mama, pulmão, bexiga, rim, colorretal, fígado, estômago, útero, pâncreas, tireoide, entre outros.
O check-up médico é a ferramenta capaz de antecipar, prevenir e promover saúde. Hoje temos mais de 90 mil mulheres examinadas em nossas clínicas, entre 15 e 90 anos, ao longo de três décadas. A qualidade da saúde das mulheres avaliadas piorou significativamente, em especial se considerarmos os meses pós-pandemia, no que tange o nível de estresse e o sedentarismo, refletindo no percentual de casos de depressão, diabetes e infecção urinária de repetição.
Observando os últimos 30 anos, nota-se o agravamento da saúde das mulheres em decorrência do elevado nível de estresse que convivem, vetor para o estilo de vida inadequado. Se antes o infarto do miocárdio era mais raro em mulheres, hoje a incidência se equipara aos homens. O câncer de mama, que era mais comum após a menopausa, já se identifica com facilidade em mulheres com menos de 35 anos. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, hoje o AVC e o infarto do miocárdio matam ou incapacitam as mulheres duas vezes mais que todos os cânceres femininos reunidos.
Nossa metodologia de trabalho é guiada pelo conceito de que cada pessoa é única: corpo e alma, físico e emoção. Quando a paciente entra em contato com as clínicas para agendar o seu check-up, ela recebe um questionário preliminar que possibilita uma avaliação inicial de seu histórico familiar, estilo de vida, risco coronariano, níveis de estresse emocional, ansiedade, depressão e alcoolismo. Quando o cliente chega à clínica, já temos uma noção concreta do seu histórico de saúde.
Uma vez na clínica, a cliente passa por diversas avaliações: clínica geral, cardiológica em repouso e em esforço, oftalmológica, pneumológica, avaliação do sono e predisposição à síndrome de apneia do sono, ginecológica, mastológica, dematológica com dermatoscopia e nutricional (pós-check-,up). Além disso, exames complementares também são realizados, como ultrassonografias abdominal, transvaginal e mamária, eletrocardiograma basal, radiografias digitalizadas do tórax, prova de função respiratória e mamografia digital, por exemplo. O check-up é complementado com exames laboratoriais de sangue, urina e fezes.
Com os exames concluídos, na etapa do pós-check-up via telemedicina, são desenvolvidos programas de promoção à saúde individualizados, observando fatores de risco e o estilo de vida da cliente. O resultado é real: cerca de 800 executivas monitoradas neste ano mostraram melhoras concretas em seus níveis de estresse e peso, por exemplo.
A longevidade com autonomia da Rainha Elizabeth II não foi um milagre. Ela resultou de um estilo de vida saudável, que aliava exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, sono reparador e check-up preventivo periódico, fatores que são acessíveis a boa parte da população.
Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, Conselheiro estratégico da ABRH-Brasil e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-Up.