Nova pesquisa conclui que os malefícios da bebida alcóolica não atingem apenas os dependentes
A maior causa de hospitalização na França não é a violência ou desastres de trânsito. Acredite: o que leva os franceses aos hospitais é o uso de álcool provoca 41 mil mortes por ano no país, sendo 30 mil do sexo masculino. A informação acaba de ser revelada pelo estudo “Redução de danos associados ao consumo de álcool”, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica. Depois de analisarem 3.600 documentos, especialistas chegaram a três recomendações: endurecer a legislação, intensificar as mensagens preventivas e seguir monitorando os níveis de consumo.
Em 2017, o Departamento de Saúde francês recomendou como seguro a quantidade de duas doses de álcool por dia, ou até 10 doses por semana. Acompanhar uma taça de vinho às refeições faz parte da cultura alimentar francesa. No entanto, o consumo médio no país é de três doses por dia. De acordo com os especialistas, cerca de 7% da população apresenta um consumo exagerado de bebida alcoólica ou podem chegar ao grau de dependência.
Dependendo do volume consumido, o álcool pode ser considerado tóxico para vários órgãos do corpo e responsável, direta ou indiretamente, por doenças cardíacas, hepáticas, neurológicas e psiquiátricas. As estatísticas da pesquisa francesa atestam essa realidade. Das 41 mil mortes atribuídas ao álcool, 16 mil estão associadas a diferentes manifestações de cânceres, 9.900 de doenças cardiovasculares, 6.800 a doenças digestivas, 5.400 à causas externas (como acidentes ou suicídios) e 3 mil mortes ligadas a outras patologias (como doenças mentais e transtornos de comportamento). Outro dado importante que precisa ser considerado, especialmente neste momento, é que o álcool diminui a resposta imunológica do organismo e nos deixa mais expostos a infecções, pneumonias e outras síndromes respiratórias, condições que agravam os quadros de Covid-19.
O levantamento francês traz ainda outro dado estarrecedor: metade dos danos ligados ao consumo de álcool atinge pessoas que não são dependentes. Ou seja, não é preciso ser dependente para ser vítima dos malefícios da bebida alcoólica.
A pandemia e o isolamento social trouxeram dúvidas, incertezas e medo. O consumo de bebida alcoólica é um (falso) subterfúgio de alívio das angústias e de estresse. A bebida alcoólica, na verdade, estimula o centro de recompensa cerebral, liberando a dopamina e, com isso, atingindo uma sensação de prazer. Mas no uso continuado do álcool, esse processo se inverte e o resultado é um aumento da sensação de estresse e da ansiedade. Na verdade, o álcool é um péssimo ansiolítico. Para curar-se do mal, toma-se o veneno. O consumo continuo de álcool atua no sistema do estresse e isso faz com que a pessoa tenha mais compulsão para tomar álcool, criando um ciclo vicioso.
O que a ciência tem atestado é que o melhor aliado na busca por menos estresse é menos álcool e mais qualidade de vida: fazer exercícios físicos, alimentar-se bem, dormir um sono reparador e manter em dia as consultas médicas e check-ups. Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a MedRio Check-up, líder brasileira em check up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).