Durante a pandemia, profissionais de RH estão dando o tom e o pulso do funcionamento das empresas em tempos tão adversos. Internet/Reprodução

 

Os novos métodos de trabalho e dinâmicas corporativas impostas pela pandemia exigiram muito jogo de cintura de diversas áreas nas empresas. Mas poucos foram obrigados a estarem tão atentos quanto os profissionais de Recursos Humanos, como verdadeiros regentes das empresas, dando o tom e o pulso do funcionamento em tempos tão adversos.

Ocupados em fixar e estimular talentos, recrutar novos colaboradores, atentar para a saúde física e mental dos funcionários, os profissionais de RH fazem a diferença: eles estimulam que as empresas avancem. Apesar disso, esse recorrente sistema de “avança e recua” que as medidas sanitárias estão impingindo às empresas é cruel para o planejamento de qualquer negócio – por mais competente que seja o RH envolvido.

Como cuidar da saúde emocional e física dos colaboradores diante de tantos medos e incertezas, alterando significativamente o comportamento das equipes? O home office transferiu, sem aviso ou preparação prévios, os escritórios para dentro das casas dos funcionários. Resultado: trabalha-se mais tempo, em condições adversas, com rendimento discutível, com grandes perdas em saúde. Como manter a cultura da empresa disseminada entre funcionários que trabalham à distância, que apenas trocam em reuniões por meio de telas, desconfortáveis e cansativas? De que maneira é possível manter jovens talentos estimulados se ao invés de terem ao seu lado os colegas mais experientes, provocando suas potências, estão restritos a trabalhar com máquinas comandadas por inteligência artificial, sem nenhuma emoção? Todas essas questões foram – e ainda são – desafios a que as áreas de Recursos Humanos tem se confrontado.

Há diversos relatos de especialistas em RH que desenham um quadro preocupante do estilo de vida de seus colaboradores nos últimos dois anos: alimentação desequilibrada, rica em gorduras e carboidratos, noites mal dormidas, sedentarismo, uso abusivo de álcool e cigarro. Quanto tempo levará para corrigir-se o péssimo estilo de vida imposto pelo isolamento social? Como está a saúde mental dos colaboradores? Burnout, depressão, ansiedade, estresse pós-traumático e suicídio estão explodindo em nossa sociedade.

No livro best-seller “O gerente é um psicólogo”, o psiquiatra francês Eric Albert discute o papel de um gerente nos dias de hoje. Segundo ele, o gerente do nosso tempo é, menos do que ter a experiência técnica, aquele profissional que faz a equipe trabalhar em conjunto em busca da melhor performance. Nesse sentido, é imperativo reconhecer a importância da dimensão psicológica no funcionamento de equipes de trabalho. O líder que faz diferença nos dias de hoje é aquele que reconhece, motiva, avalia e remunera e, acima de tudo, entende o papel das emoções na vida de seus funcionários e oferece suporte e estabilidade para um bom funcionamento da saúde mental de seus colaboradores.

O “stop and go” gerado pela variante Ômicron provocou, mais uma vez, instabilidade e incerteza no rumo das empresas. Hoje, grande parte da população mundial já se vacinou duas ou três vezes. Apesar disso, muitos continuam a manter as medidas restritivas.

Entretanto, toda pessoa é corpo e alma, físico e emoção. Diferente das sequelas físicas, para as agressões à saúde mental não existem próteses. E o que estamos assistindo neste momento é a saúde mental definhar, com as pessoas desgostosas, tristes, raivosas, amedrontadas e surpresas pela falta de perspectivas quanto ao término da crise sanitária (afinal, lá se vão dois anos).

Até quando as pessoas suportarão o estresse intenso que foi imposto ao mundo de forma súbita, profunda e prolongada? Talvez o basta para tudo o que a pandemia gerou na população mundial venha do fundo da alma das pessoas e, mais uma vez, a sabedoria comandada pelas emoções, norteará as ações necessárias.

Mais que nunca, os profissionais de RH devem estar atentos às suas equipes e serem valorizados por seus pares. Sem eles, a travessia do atual momento seria mais que complicada. Seria traumática. É a saúde que permite ao ser humano se desenvolver em todas as suas dimensões.

 

 

Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).