No 6º Encontro Científico promovido pela MedRio Check-up nesta semana, recebemos Clemente Nóbrega, consultor de saúde em grandes empresas e autor de vários livros, como “O novo mercado da saúde e o novo médico”. Nobrega esteve em nossa clínica para falar à a equipe sobre um tema cada vez mais importante: o valor agregado na área de saúde. De acordo com ele, quando o público leigo pensa em um médico, o imaginário popular imediatamente o remete a um tipo de profissional como o personagem da série “Doutor House”, ou seja, alguém que tem um saber especial, que descobre doenças que as pessoas tem e propõe tratamentos e intervenções. Na nossa cultura o médico se especializa para tratar doenças. O combustível do sistema de saúde no Brasil é a doença.
É um tipo de cuidado em saúde muito disseminado em nossa sociedade e a partir da qual os usuários tendem a fazer suas escolhas: diagnosticar e tratar. No entanto, grande parte das intervenções médicas deveria ser centrada em outra lógica: “antecipar e prevenir”, ao invés de “diagnosticar e tratar”. E por que ainda é assim? Porque a velha fórmula de diagnosticar e tratar dá dinheiro. Toda a indústria da saúde – da farmacêutica à hospitalar – está fundada no conceito de “diagnosticar e tratar”. Até hoje, nunca se conseguiu um modelo que desse dinheiro baseado no “antecipar e prevenir”. Seria ingênuo desconsiderar a importância do dinheiro, por uma razão: tudo que tem valor, tem custo.
Porém, o modelo baseado em “diagnosticar e tratar” é cada vez mais difícil de se sustentar. Doenças e tratamentos são caros. Hoje, no Brasil, existe um movimento de se deslocar dessa lógica. Está comprovado que é preciso experimentar outros modelos para que se transforme a área de saúde; um modelo em que a maioria das demandas, cerca de 80% a 90%, sejam atendidas via processos padronizados habilitados por ferramentas tecnológicas, que aliviariam a carga sobre o sistema de saúde. É possível achar um novo modelo baseado em “antecipar e prevenir”, que seja mais barato e que oferece menos riscos. Saúde é prevenção.
Hoje, vivemos sob um modelo onde o médico é o referencial de saber, assim como o piloto na aviação. Mas em vários setores, a expertise migrou de um caráter pessoal para o processo e a tecnologia. Não que o piloto ou o médico não sejam mais importantes, mas o saber deles é complementado e amplificado por processos e tecnologias.
No modelo de hoje, o sistema é constituído de pagantes (pessoas e empresas privadas) que contratam planos de saúde e operadoras (passando por intermediários), que por sua vez contratam os prestadores que, por fim, selecionam seus fornecedores. Esses são os atores e o fluxo de dinheiro que constitui a cadeia na área de saúde. No final das contas, ninguém tem ideia da qualidade do serviço que está sendo contratado e do que será prestado. Em bom português: ninguém sabe pelo o que está pagando.
Valor é um conceito intuitivo. É pura percepção. Quem compra um sanduíche ou um carro, sabe que produto está levando. E em saúde? Quando se fala em agregar valor à saúde (ou saúde com base em valor), a ideia é justamente trazer para a área da saúde mecanismos que permitam a quem paga saber pelo que está pagando. Hoje já é possível tangibilizar e essa é a ideia de agregar valor em saúde. Só assim o cliente tem condições de avaliar o serviço e saber se ele está satisfeito.
Como esclareceu Clemente Nobrega, desta forma passa a ser possível medir, auditar e divulgar os desfechos das ocorrências médicas para além do resultado momentâneo de uma cirurgia ou intervenção. Ou seja, todas as partes envolvidas acabam se alinhando em torno do interesse do usuário: os pacientes escolhem provedores com base nos desfechos de seus casos e na participação que têm no pagamento; os provedores competem para entregar os melhores desfechos; os pagadores negociam contratos com base em desfechos, induzindo a melhoria dos resultados e a indústria de medicamentos e materiais vendem seus produtos comprovando melhores desfechos.
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-Up.