Pesquisa apontou que médicos são pouco cuidadosos com a própria condição física e mental


Exaustão e depressão são preocupações em relação à saúde dos médicos, aponta pesquisa. Shutterstock/Reprodução

O velho ditado popular que afirma que “santo de casa não faz milagre” pode se aplicar a muitos assuntos da sociedade, incluindo a saúde dos médicos. É o que acaba de atestar uma pesquisa inédita da Associação Paulista de Medicina (APM), feita com 778 médicos que atuam no estado de São Paulo. Mais da metade (53%) são médicos da capital; 39%, do interior; e 8%, de outros estados. A maioria (54%) tem até 50 anos.

O estudo concluiu que 27% dos médicos são sedentários. A taxa é quase o dobro da registrada entre os adultos de 26 capitais brasileiras mais o Distrito Federal (15%), segundo dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel 2021), inquérito telefônico do Ministério da Saúde que levanta fatores de risco para doenças crônicas.

Entre os que praticam alguma atividade física regularmente, 15% o fazem cinco ou mais vezes por semana; 13%, quatro vezes; 23%, três; 16%, duas; e cerca de 5%, apenas uma. A maioria (68%) não dedica mais do que 30 minutos aos exercícios, apesar de a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) ser a prática de 150 a 300 minutos de atividades físicas por semana.

Segundo o levantamento, 54% dos médicos usa algum remédio, como tranquilizantes, ansiolíticos e antidepressivos (30%), medicamentos para controle de hipertensão (24%), dos níveis de colesterol (19,8%) e da diabetes (11,5%). Entre os problemas de saúde que os médicos entrevistados têm ou tiveram no último ano estão distúrbios do sono (44%), cefaleia (30%), disfunções sexuais (11%) e distúrbios psicológicos (22%).

A saúde mental, aliás, é um ponto de atenção: 72% relatam desânimo e impaciência; 21,5%, depressão; 26%, alterações na memória; e 31%, falta de atenção e concentração. O resultado da pesquisa da APM vai de encontro a outro estudo recente que apontou que cerca de 33% dos médicos do Brasil tiveram depressão ou burnout nos últimos 12 meses em função do número excessivo de horas trabalhadas, baixos salários ou insatisfação profissional. Cerca de 25% dos médicos declaram não tirar férias há mais de um ano e só metade dos médicos declara cumprir jornadas de oito horas diárias e 44 semanais, estabelecidas na Constituição. O dado preocupante é que a maioria confessa que não procurou ajuda médica para enfrentar os transtornos mentais.

Há uma boa notícia, no entanto: só 5% dos médicos se declaram fumantes. É praticamente a metade do percentual da população brasileira em geral (%). A grande maioria dos médicos (77,7%) diz que nunca fumou e 16% relatam que abandonaram o hábito.

Nas nossas clínicas da Med Rio Check-up recebemos com frequência colegas médicos para avaliação. Temos em nossa base cerca de mil médicos atendidos e observamos que o padrão de comportamento deles se assemelha bastante ao que concluiu a pesquisa paulista, que negligenciam a própria saúde em função de um dia a dia estressante.

No entanto, profissionais de saúde conhecem bem o que precisa ser feito para se conquistar uma vida mais saudável: além de evitar o tabagismo, deve-se buscar noites de sono reparadoras, ter boa alimentação (longe de açúcares e farináceos), praticar exercícios físicos, consumir álcool com moderação e fazer exames preventivos com regularidade. Precisam, porém, colocar em prática para si o que recomendam diariamente a seus próprios pacientes.

Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, Conselheiro estratégico da ABRH-Brasil e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-Up.