Em recente artigo no jornal O Globo intitulado “Não basta zerar filas cirúrgicas”, a cardiologista e professora Ludhmila Hajjar chama atenção para um tema importante: a reiterada retórica de políticos em campanha na busca por “zerar filas cirúrgicas”. A especialista é certeira ao elencar diversas razões para que isso não seja possível: a população do Brasil é gigantesca (ultrapassa 215 milhões de pessoas), falta de tecnologia, ausência de instrumentos capazes de definir prioridades de acordo com a gravidade dos casos, baixo investimento orçamentário na realização de cirurgias e um verdadeiro “apagão” de dados e estatísticas que viabilizem melhorias na logística de cirurgias.
Todos os pontos levantados pela doutora Hajjar são resultados da prática da Medicina que atende à lógica de diagnosticar o paciente e trata-lo. Porém, há algum tempo essa compreensão da Medicina como uma “resolvedora de doenças” já se mostra ultrapassada. Doenças, hospitalizações e tratamentos são caros – pesquisas apontam cifras em torno de R$350 milhões ao ano – e nem sempre eficientes (os números apontam que cerca de 20% dos pacientes tem algum tipo de complicação pós-operatória). No sistema de saúde brasileiro, a doença é o combustível.
Há poucos dias, no 6º Encontro Científico promovido pela MedRio Check-up, o consultor de saúde Clemente Nóbrega expôs a irracionalidade da lógica de diagnosticar e tratar, que ainda serve de base para toda a cadeia da indústria da saúde. Ele defende que grande parte das intervenções médicas deveria ser centrada em outra lógica: “antecipar e prevenir”. E isso já começa a acontecer. Enquanto doença for a guia para a nossa saúde (seguros, planos, … ) os custos serão sempre maiores.
É cada vez maior o entendimento de que o melhor remédio para o corpo são as mudanças no estilo de vida: ter uma noite reparadora de sono, praticar atividades físicas regularmente, controlar o peso, o diabetes, os níveis de colesterol e triglicerídeos, ter uma alimentação balanceada, não fumar, evitar o excesso de sal e de bebidas alcoólicas, gerenciar o estresse e controlar a pressão arterial são as estratégias mais eficazes e baratas para a longevidade com autonomia. É hora de se colocar vida na saúde das pessoas.
Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-Up.