Exame de ultrassom é a forma mais eficiente para se avaliar a saúde do fígado. Envato Elements/Reprodução 

A MedRio Check Up está comemorando 30 anos de funcionamento. Para marcar efeméride tão importante, criamos uma agenda de “Encontros Científicos com a Prevenção”, que acontecem uma vez por mês, abordando diferentes especialidades médicas. Neste mês de abril, os convidados são o endocrinologista Amélio Godoy e o hepatologista Henrique Sergio Coelho.

Cerca de 35% da população adulta do Rio de Janeiro tem aumento de depósito de gordura no fígado. Quem faz o alerta é o hepatologista Henrique Sérgio Coelho. Professor Associado do Departamento de Clínica Médica da UFRJ, Coordenador Clínico da Unidade de Doenças Hepatobiliares e Pâncreas do Hospital São Lucas Rede Ímpar, Coelho ressalta o perigo que a pandemia significa para a saúde: o aumento rápido de peso pode levar ao acúmulo de gordura no fígado.

Conversamos com Henrique Sérgio Coelho sobre este e outros assuntos:

O que leva uma pessoa ao quadro de esteatose hepática?

É um conjunto de fatores, como alterações metabólicas (como a diabetes), consumo excessivo de álcool (30 gramas/dia para homens e 20 gramas/dia para mulheres, o equivalente a duas garrafas e meia por semanas, no caso dos homens), uso de medicamentos como cortisona e cloroquina, além de doenças genéticas. É comum receber no consultório pacientes acima do peso, com histórico familiar ou tendência genética de algumas doenças (como quadro de pré-diabetes) e já apresentando alterações de gordura no sangue (colesterol com alteração ou triglicerídeos aumentado).

A esteatose hepática tem grande incidência?

Cerca de 35% da população adulta do Rio de Janeiro tem aumento de depósito de gordura no fígado. O recurso usado para fazer o diagnóstico é o ultrassom, que sinaliza a gordura no fígado, aponta se ele está mais pálido.

O estilo de vida é o principal fator da doença?

Se o problema fosse só esse, bastaria mudar o estilo de vida. Porém há características genéticas relevantes. Elas podem fazer com que a gordura evolua ao longo dos anos para uma cirrose do fígado. Antigamente havia a impressão de que a principal causa de cirrose era a bebida ou a hepatite C, mas hoje 35% das pessoas fazem transplante de fígado são por cirrose metabólica, que está em primeiro lugar, a frente da hepatite e do álcool. Mas, sem dúvida, o estilo de vida é importante: fazer dieta, perder peso, parar de beber e praticar exercício. O maior desafio é manter a mudança de hábitos por um longo período.

A pandemia agravou ou aumentou o número de casos de esteatose hepática?

A pandemia aumentou o sedentarismo, a ingestão de álcool e de alimentos. O aumento rápido de peso, como acontece na pandemia, leva ao acúmulo de gordura no fígado. Existem exames hoje que mostram o grau de evolução da esteatose, se é só uma inflamação no fígado ou se pode evoluir para uma cirrose.

A esteatose hepática é reversível?

Sim, é reversível. Quando uma pessoa perde 10% do peso corporal, ela já consegue diminuir a gordura no fígado. Mas trata-se de uma doença silenciosa, porque não há um sintoma perceptível no começo.

Incidência maior em homens ou mulheres?

A doença tem a mesma frequência em homens e em mulheres. O que acontece é que a ingestão de álcool ainda é mais frequente nos homens, uma das principais causas de aumento de gordura no fígado. Então o paciente às vezes está acima do peso, tem uma dieta irregular, o metabolismo errado e ainda faz abuso de álcool. O mais grave é o aumento entre os adolescentes. Quanto mais cedo a pessoa tem o problema metabólico, mais cedo evolui para uma cirrose, se não for corretamente tratado.

Qual a importância do check up na prevenção da esteatose hepática?

O check up é fundamental, tendo em vista que a doença ocorre em 35% da população e, principalmente, em pacientes com excesso de peso e histórico familiar de diabetes. A realização do check up permite que se faça a ultrassonografia e exames laboratoriais que levarão ao diagnóstico.