Antônio Egídio Nardi destacou diversos fatores que ajudam ou prejudicam a saúde do cérebro e a obtenção de felicidade

Antônio Egídio Nardi: “Ninguém é feliz o tempo todo, mas podemos ter momentos de felicidade. Faz parte da vida de uma pessoa saudável buscá-la”. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Na tarde do último dia 12 de junho, realizamos a quinta edição do ano do “Encontro com a prevenção”, que acontece todos os meses na MedRio Check-up, com transmissão ao vivo pelo Youtube e redes sociais. Nosso convidado desta vez foi o doutor Antônio Egídio Nardi, Membro Titular da Academia Nacional de Medicina e Professor Titular de Psiquiatria da UFRJ, que veio ao nosso encontro falar sobre “Felicidade e saúde mental – Um olhar corporativo”.

Nardi destacou que os cursos de Medicina se ocupam em ensinar o que são as doenças, mas não o que é uma pessoa saudável. Como parte da saúde do indivíduo, a busca pela felicidade é fator fundamental. “Ninguém é feliz o tempo todo, mas podemos ter momentos de felicidade. Faz parte da vida de uma pessoa saudável busca-la”, esclareceu.

O psiquiatra relatou que uma publicação alemã investigou o quanto a infância é determinante para a felicidade e concluiu que a entrada na vida adulta é mais capaz de trazer felicidade, desmistificando o poder da fase infantil na vida de um indivíduo. “Excluindo crianças com transtornos ou vítimas de situações circunstanciais, a infância não é tão decisiva para o resto da vida”, afirmou.

Ainda segundo Nardi, a revista Time investigou o quanto o dinheiro traz felicidade e concluiu que, por si só, isso não acontece, mas é capaz de ajudar significativamente. “A publicação americana constatou que não é necessário muito dinheiro, apenas o suficiente para prover uma vida digna que ofereça comida, habitação e saúde”, relatou.

Segundo o especialista, parte do que o inconsciente coletivo concebe como felicidade é criação da propaganda e do marketing. A publicidade induz ao erro do que seria, de fato, ser feliz: ter o carro do ano, se hospedar no hotel da moda ou até mesmo a ideia da família perfeita tomando café da manhã em torno da margarina. “Nos dizem que a felicidade está atrelada ao consumo e certamente não é isso”, explica.

Outra associação comumente relaciona a felicidade ao amor, não apenas interpessoal, mas também à família, ao trabalho. De fato, as mais diferentes relações amorosas podem trazer felicidade, mas não por apenas existirem: é preciso cultiva-las e cuida-las. O isolamento social imposto pela pandemia comprovou não apenas que o convívio social é capaz de trazer felicidade, mas também o quanto nos fez falta. “A vida social faz parte da nossa saúde mental e da busca da nossa felicidade. No entanto, é preciso ser capaz de identificar quem nos faz bem e quais relacionamentos nos prejudicam emocionalmente”, frisou, destacando ainda que, de acordo com a publicação New Scientist, à medida que ganha idade, o convívio social torna-se ainda mais importante para manter o cérebro saudável e a vida produtiva.

A felicidade também é um assunto que interessa ao campo teórico-filosófico, na medida em que matérias como a religião, por exemplo, colaboram para uma maior aceitação dos fatos da vida e, consequentemente, para a felicidade.

Nardi frisou também que o reconhecimento de um espaço como casa – um teto que a pessoa entende como seu – também é fator de felicidade, mais que saúde ou dinheiro, um lugar que pode dormir e exercer suas vontades. “Neste momento, isso nos faz pensar nos moradores do Rio Grande do Sul, que estão vivendo estresse pós-traumático por conta das enchentes, pessoas que perderam tudo, incluindo suas casas, um símbolo muito forte para qualquer pessoa. Perder a casa inesperadamente é uma violência enorme para a saúde e bem-estar do indivíduo”, completou.

Segundo o especialista, a revista americana The Economist publicou artigo relatando que na juventude as pessoas tendem a ser naturalmente mais felizes e em seguida, na vida adulta, a felicidade fica mais distante por conta dos compromissos e responsabilidades inerentes à faixa etária. As pessoas reencontram a felicidade na terceira idade, quando tem uma vida mais leve e a possibilidade de procurar mais coisas que gostam, com mais tranquilidade. “Ser idoso é um momento importante para ser feliz, desde que procurem a felicidade”, completou.

A boa notícia é que, de acordo com a New York Magazine, a felicidade pode ser ensinada e aprendida. No entanto, isso demanda uma prática de bons atos, conhecer limitações e defeitos, entender que muitas vezes erramos nos objetivos de vida, que devem ser realistas, justamente para poderem ser concretizados. Ainda de acordo com a publicação americana, a predisposição para a felicidade também tem um componente genético.

Nardi salientou que o cérebro é um órgão que deve ser cuidado para se alcançar a felicidade. “Sabemos de diversos fatores que melhoram ou prejudicam o cérebro. A provocação ou não de estímulos está diretamente atrelado à produção de neurônios. Alimentos como café, uva, blueberry, chocolate, cúrcuma, ômega 3, melhoram o cérebro e podem colaborar para a conquista de felicidade, bem como ser prejudicado por alimentos que contenham alto teor de açúcar, bebida alcoólica e gorduras”. Outros fatores comportamentais, como trabalhar, estudar, ter atividade sexual e praticar exercícios também colaboram para a saúde do cérebro e promovem felicidade.

Por fim, o estilo de vida saudável se torna completo com a realização de check-ups regulares, que possibilitam a prevenção de doença ou sua identificação ainda em estágio inicial, viabilizando o tratamento e a cura.

Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-Up.