Estilo de vida é fundamental para a prevenção do câncer de mama

Antônio Braga: especialista deu detalhes sobre a menopausa e sua possível relação com o câncer de mama — Divulgação/Reprodução

Na oitava edição deste ano do “Encontro com a prevenção”, que realizamos mensalmente na Med Rio Check-up, com transmissão ao vivo pelas redes sociais, abordamos o assunto “Menopausa e o câncer de mama”, com a participação do doutor Antônio Braga, professor de Obstetrícia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), Visiting Professor em Harvard Medical School, Livre Docente em Obstetrícia pela Unifesp e UNESP e pós-doutor pela Harvard Medical School e pelo Imperial College de Londres.

Professor Braga iniciou sua fala destacando que a melhora nas práticas sanitárias e nas medidas preventivas das últimas décadas propiciou um aumento da expectativa de vida para toda a população. Se na década de 1940 a média da longevidade era de 45 anos, na década de 2020 esse número saltou para quase 77 anos. “O ganho de qualidade de vida traz às mulheres novos desafios como o câncer de mama, cuja incidência aumenta com o passar dos anos das pacientes”, explicou.

De acordo com o professor, o entendimento do envelhecimento saudável no Brasil passa pela compreensão da pirâmide populacional do país. Segundo dados, metade da população brasileira tem 35 anos ou mais. “Não é à toa que a Organização Mundial de Saúde (OMS) elege as décadas de 2020 e 2030 como as décadas do envelhecimento”, resumiu. Segundo o Censo 2022, o Brasil tem 104,4 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens. O professor destacou que a situação é ainda mais especial no Estado do Rio de Janeiro, unidade da federação com mais da metade da população composta por mulheres.

Neste contexto, a biologia da mulher, programada para produzir estrógenos com o inicio potente na puberdade, se esgota por ocasião da perimenopausa, período em que a produção do estrógeno diminui e cuja duração pode variar de mulher para mulher. Neste período conturbado da vida da melhor, a falta de estrogênio traz implicações no corpo, como redução de colágeno e perda de elasticidade da pele; aumento da pressão, do colesterol e entupimento das artérias, queda da libido e ressecamento da mucosa vaginal; cansaço e ondas de calor; ansiedade, depressão, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e de memória; acúmulo de gordura e risco aumentado de diabetes; maior propensão à osteoporose.

Na tentativa de aplacar tamanho desconforto, surge ainda nos anos 1980, a terapia de reposição hormonal. Pouco depois, diferentes estudos associaram a prática da reposição hormonal ao surgimento de câncer e, mais especificamente, ao câncer de mama – colocando na berlinda a terapia de reposição hormonal. Pouco depois, diferentes estudos associaram a prática da reposição hormonal ao surgimento de câncer e, mais especificamente, ao câncer de mama – colocando na berlinda a terapia de reposição hormonal. Com o passar dos anos, esse entendimento mudou, na medida em que o câncer de mama também estava associado a outras condições, como fumantes, diabéticos etc, variáveis ignoradas anteriormente, diretamente associados ao estilo de vida saudável.

Hoje a terapia de reposição hormonal é útil, desde que bem indicada: para mulheres com sintomas (fogachos, suores noturnos, calores ou sensação de frio intenso), atrofia genital em função de ressecamento, para prevenção de fratura e osteoporose e para melhora da saúde cardiovascular, em casos de iniciação precoce.

Além das indicações para quem tem sintomas, a reposição hormonal também é indicada para quem não tem nenhuma outra doença grave, para quem tem pressão arterial normal, é ativo fisicamente e não tem histórico familiar para câncer de mama, ovário, endométrio ou útero. Braga destaca que alguns casos demandam mais atenção: pacientes que tenham histórico familiar para esses tipos de cânceres, fumantes, diabéticos, hipertensos, pacientes com síndrome metabólica, doenças autoimunes, risco cardiovascular aumentado, obesidade e sobrepeso ou sedentarismo. “Por outro lado, quem não pode fazer uso de reposição hormonal são pacientes com histórico de câncer de mama, ovário, endométrio ou útero, mulheres com problemas cardíacos já estabelecidos, pressão alta não tratada, diabetes descompensado, doença hepática ou histórico de doenças tromboembólicas, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio”, esclareceu Braga. Segundo ele, o momento para começar a reposição hormonal varia, mas depois dos 60 anos da paciente ou pessoas que apresentam sintomas há mais de 10 anos, ela é menos recomendável.

Ao relacionar o nível hormonal das mulheres com a incidência de câncer de mama, Braga relatou o aumento de 26% da ocorrência deste tipo de câncer no Brasil, o segundo mais comum no país – e o primeiro em número de óbito de mulheres. O especialista afirmou que mamografias são recomendadas para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos. No entanto, diante do aumento dos casos de câncer de mama entre mulheres mais jovens e a maior longevidade da população, essa faixa etária pode ser estendida de 40 a 75 anos.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa é de 73 mil novos casos por ano. A boa notícia, no entanto, é que as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam a diminuir, graças à prevenção e ao diagnóstico precoce. Cerca de 90% dos casos de câncer de mama tem cura, desde que diagnosticados precocemente.

Diante disso, o antídoto não apenas para o câncer de mama, mas também para todas as demais doenças, é o estilo de vida saudável e a prática regular da prevenção: alimentação saudável, atividade física, gerenciamento estresse e do bem-estar, sono reparador e evitar o uso de substâncias, como tabaco ou álcool, bem como a realização de check-ups periódicos. Estilo de vida saudável é o melhor aliado na prevenção de doenças.

Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-Up.