O hábito de se exercitar é um antídoto natural e fortalece o indivíduo contra doenças

A prática de exercício físico é fundamental na prevenção e manutenção da saúde. (Shutterstock/Reprodução)

Vivemos um momento difícil em nosso planeta, retratado por pós pandemia e suas perdas, além de guerras em curso. Retomada da inflação, dos impostos, crise hídrica e energética, aumento do desemprego, entre outros problemas graves. Um cenário que inquieta e agride diretamente o bem-estar de todos os cidadãos. Essa agressão crônica e medo persistente das pessoas causa ansiedade e depressão em diferente grau, além de outras complicações emocionais e físicas, dependendo da forma como cada um de nós assimila. Mas como enfrentar esse momento de fragilidade emocional e se fortalecer?

Somos corpo e alma, físico e emoção. Não há dissociação. Estudos realizados por cientistas da Universidade de Harvard nos Estados Unidos demonstram que 80% de todas as consultas médicas no mundo, sejam em consultórios, ambulatórios e hospitais, têm relação com o estresse diário no cotidiano no homem moderno; o nômade contemporâneo no mundo globalizado.

Hoje, homens de 35 anos estão sendo operados de doenças que antes só eram diagnosticadas depois dos 50. Ainda na década de 1990, o câncer de mama incidia sobre mulheres com mais de 40 anos. Atualmente, não raro, a doença é diagnosticada em idades mais precoces. Em 32 anos realizando diariamente check-up médico, e a partir da análise de dados de 250 mil homens e mulheres, nossos médicos identificaram que 70% dos nossos clientes convivem com altos níveis de estresse, o maior fator de risco para a boa saúde. O indivíduo estressado alimenta-se e dorme mal, leva uma vida sedentária, em geral. E tudo isso aliado às pressões profissionais e à falta de lazer e à fragilidade emocional prejudicam o seu bem-estar.

O estresse crônico, entre outros malefícios, favorece a liberação de altas doses de adrenalina e cortisol na circulação sanguínea, com consequências graves, como, por exemplo, depressão, em indivíduos predispostos. Os sintomas de depressão aparecem em 8% dos nossos clientes, a maioria do sexo feminino e com alto grau de instrução.

Recentemente, recebemos uma cliente em nossa clínica que, ao término de seus exames, nos solicitou uma receita para comprar Prozac, um antidepressivo. O pedido nos causou certa estranheza, por se tratar de uma pessoa de modo geral dinâmica, alegre e expansiva. E que naquele momento vivia apenas uma fase de desânimo e alguma tristeza passageira. Não era o caso de tomar antidepressivo.

Não podemos banalizar a palavra depressão, nem o uso de antidepressivos. Quando sintomas de desânimo, desmotivação e tristeza persistem por semanas ou meses e impedem um retorno à vida normal, aí sim podem ser sinais de alerta para uma depressão verdadeira, que, do ponto de vista bioquímico, se caracteriza pela baixa produção ou liberação de mensageiros dos neurônios, chamados de neurotransmissores, como serotonina.

A indústria farmacêutica desenvolve cada vez mais medicamentos pontuais para elevar os níveis de neurotransmissores. Entretanto, apesar dos grandes avanços tecnológicos, nosso cérebro permanece uma caixa de Pandora, uma estrutura individual e pouco conhecida em sua nano-organização. As drogas desenvolvidas atuam de forma individualizada. Aquele antidepressivo que, eventualmente, está contribuindo para o bem-estar de uma pessoa, pode ser um gatilho de suicídio para outra.

Portanto, o uso de antidepressivos deve ser criterioso. As reações adversas a esse tipo de droga incluem ansiedade, insônia, perda de apetite, convulsões, redução do nível de açúcar circulante, tremor, taquicardia, calafrios, delírio, euforia e, em certos casos, parada cardíaca.

Quando se trata apenas de um problema físico, como, por exemplo, o comprometimento de um órgão ou de uma articulação, é possível recorrer a intervenções cirúrgicas, transplante ou mesmo próteses. Para os traumas emocionais inexistem próteses.

Por outro lado, de forma natural e rápida, podemos elevar os níveis de serotonina e outros neurotransmissores, além dos analgésicos naturalmente produzidos pelo nosso corpo, como as endorfinas. E a prática diária de atividade física aeróbica é uma das medidas mais eficazes nesse sentido.

O hábito de se exercitar é um antídoto natural e fortalece o indivíduo contra doenças, oxigena mais eficazmente o corpo e o cérebro, aumenta a imunidade, melhora o funcionamento do coração, favorece a produção da fração boa de colesterol (o HDL), controla o açúcar em excesso, proporciona um sono reparador, eleva o desejo sexual, retarda o envelhecimento e traz maior sensação de bem-estar.

Os benefícios são rápidos tanto entre indivíduos saudáveis quanto entre os que sofrem de doença crônica. E quanto mais exercício, melhor. Na pesquisa, o grupo que praticou acima de 150 minutos de caminhada por semana teve um resultado melhor nos domínios físico e mental quando comparado ao grupo que caminhou menos de 150 minutos por semana ou que não praticou qualquer atividade física.

Faça as contas e verifique que não é muito: com apenas 30 minutos por dia, cinco dias por semana, sua saúde dá um salto qualitativo.

Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, desenvolveu a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, Conselheiro estratégico da ABRH-Brasil e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde(editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-up.