Executivos são vítimas de um sistema que cobra desempenho e prejudica a saúde
O homem contemporâneo é um nômade no mercado globalizado. Neste ambiente global e cada vez mais virtual, executivos são vítimas, muitas vezes fatais, de um sistema marcado pela cobrança de desempenho. Eles pensam ser polivalentes, hábeis em antecipar mudanças e se adaptar permanentemente, mas não são poucos os que sucumbem à instabilidade emocional e às doenças incapacitantes.
Esta engrenagem massacrante, que resulta numa vida controlada pela lógica dos negócios, sem espaço para o conforto emocional, sem o fortalecimento de raízes familiares, despertou de forma agressiva o pano de fundo das doenças que mais impactam a saúde do homem moderno: o estresse.
Este novo homem, para sobreviver no frenético ambiente da competição global e da vida cada vez mais virtual, precisa estar em permanente mutação em um mundo que, por sua vez, se transforma numa velocidade estonteante. Assim, no inicio do século XXI, o estresse desponta como a grande ameaça à saúde do nômade contemporâneo. É preciso saber enfrentá-lo.
No mundo corporativo não é diferente: a velocidade das mudanças cresce sempre e os resultados são, muitas vezes, para ontem. O nômade contemporâneo é capaz de ajustar-se a este timing e atender a incomensuráveis níveis de exigência, mas paga caro por isso. Em se tratando do ser humano, cuja estrutura corporal é constituída por genes que remontam a bilhões de anos, a dificuldade de adaptação é brutal.
Desde janeiro de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a Síndrome de Burnout uma doença ocupacional, definida como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”. Tal reconhecimento da OMS à gravidade do burnout é muito importante.
A síndrome de burnout é resultante do excesso de trabalho e do estresse crônico no ambiente corporativo. A doença está diretamente ligada à exaustão prolongada, física e emocionalmente. Alguns dos sintomas são esgotamento de energia, desânimo, aumento do distanciamento mental do trabalho, redução do rendimento profissional, sentimentos negativos relacionados ao trabalho, além de sintomas como depressão, irritabilidade, ansiedade, falha de memória, dificuldade de concentração e baixa autoestima. Alguns sintomas físicos do transtorno são taquicardia, dor de cabeça, alteração no apetite, insônia e dificuldade de concentração. Para se manterem ativos e dispostos, não é raro que os colaboradores recorram a artifícios perigosos, como excesso de cafeína e, pior, a medicamentos, dando início a um ciclo nocivo à saúde.
Temos observado, desde o início da pandemia, uma robusta mudança de comportamento no cotidiano das pessoas. O sedentarismo cresceu muito (65% são sedentários), o excesso de peso corporal acompanha a evolução (60% acima do peso), insônia (35%) e aumento do consumo de bebidas alcoólicas (40%). A automedicação com ansiolíticos e hipnóticos (indutores do sono), juntamente com antidepressivos, estão entre os medicamentos mais vendidos. A adoção do home office também contribui fortemente para o cenário acima.
Algumas recomendações para evitar não apenas a Síndrome de Burnout mas também várias outras doenças são manter a alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos com regularidade, ter noites de sono reparadoras, controlar hábitos nocivos como o cigarro e o consumo excessivo de álcool e respeitar momentos de descanso e lazer, acompanhado de família e amigos. Outro ponto fundamental é manter em dia os exames preventivos. Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, desenvolveu a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, Conselheiro estratégico da ABRH-Brasil e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-up.