Enorme passivo de cirurgias faz lembrar a importância de se mudar a mentalidade acerca do sistema de saúde no país

 

Déficit de cirurgias no Brasil em função da pandemia alerta especialistas. Shutterstock/Reprodução

 

O que já era uma constatação em muitos consultórios e clínicas do Brasil, acaba de se confirmar pelo levantamento do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass). De acordo com os dados, o país tem cerca de 11,6 milhões de cirurgias represadas em função dos dois primeiros anos de pandemia.

Segundo o presidente do Conselho, de acordo com a média histórica dos últimos anos, são cerca de 1,6 milhão de internações a menos vinculadas a cirurgias eletivas entre 2020 e 2021, e um déficit de aproximadamente 10 milhões de cirurgias ambulatoriais. Para dar conta de tamanha demanda, seria necessário fazer 75% a mais de operações eletivas no próximo ano e 105% a mais em cirurgias ambulatoriais.

Ainda de acordo com o Conass, cerca de 1,3 milhão de exames diagnósticos deixaram de ser feitos no biênio 2020-2021, dos quais 1 milhão de mamografias. O número fica ainda mais impressionante se lembrarmos que o INCA anunciou na semana passada que a expectativa é de mais de 200 mil novos casos de câncer de mama até 2025. Não executar os exames preventivos, portanto, é agravar um quadro que já se prenuncia bastante grave.

E o problema não se resume a uma ou outra região específica. O Brasil tem 120 milhões de brasileiros – ou seja, mais da metade da população – vivendo em localidades sem um único serviço de radioterapia sequer, 128 milhões sem possibilidade de cirurgia cardíaca e 37 milhões sem quimioterapia.

O check-up médico é um poderoso aliado justamente porque antecipa, previne e promove saúde. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 90% dos tumores têm cura, desde que diagnosticados precocemente. Doenças como as do coração, da tireoide, do estômago e do intestino; as metabólicas; a depressão; entre outras, podem ser tratadas e curadas, se forem diagnosticadas precocemente.

Diversos tipos de cânceres estão sendo observados em indivíduos cada vez mais jovens.  Tudo isso é a resposta do organismo ao estilo de vida inadequado que, além de cânceres, também conduz, a médio e longo prazos, às doenças crônicas, como obesidade, esteatose hepática, hipertensão arterial, insônia e diabetes, entre outras, responsáveis por outros cenários como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.

Doenças, hospitalizações e tratamentos são caros – pesquisas apontam cifras em torno de R$350 milhões ao ano – e nem sempre eficientes (os números apontam que cerca de 20% dos pacientes têm algum tipo de complicação pós-operatória). No sistema de saúde brasileiro, a doença é o combustível.

Porém, é cada vez maior o entendimento de que o melhor remédio para o corpo é a prevenção oferecida por umestilo de vida saudável: ter uma noite reparadora de sono, praticar atividades físicas regularmente, ter uma alimentação balanceada, não fumar, evitar o excesso de sal e de bebidas alcoólicas, são as estratégias mais eficazes para a longevidade com autonomia.

 

É hora de se colocar vida na saúde das pessoas. Saúde é prevenção!

 

 

Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, desenvolveu a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, Conselheiro estratégico da ABRH-Brasil e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-up.