Condições adversas e excesso de horas trabalhadas em casas levam funcionários à exaustão

Pandemia e trabalho remoto levaram funcionários das empresas à exaustão. Adobe Stock/Reprodução

Há um ano e meio com os colaboradores em casa, muitas empresas notam o prejuízo ao resultado final das atividades e à perda de cultura corporativa, mesmo entre aqueles que já adotaram o formato híbrido, alternando dias em casa e dias no escritório. Segundo dados da Pnad divulgados pelo Ipea, 8,2 milhões de pessoas passaram a trabalhar de casa desde o início da pandemia. Gestores tem relatado preocupação com a saúde mental e física de seus funcionários, trabalhando em ambientes que misturam vida pessoal com a profissional e que são despreparados para longas jornadas – às vezes ampliadas pela falta de limites de horário que a ida a um escritório impõe naturalmente.

São inúmeros os relatos de casos de sobrecarga. Segundo o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, houve aumento de três vezes nos quadros de ansiedade e depressão. Quanto à exaustão relacionada ao trabalho, conhecida como burnout, o crescimento foi de 21% se comparados aos meses anteriores à pandemia.

Burnout é uma sensação de esgotamento e desânimo, semelhante a um quadro depressivo, porém restrito ao trabalho. É como se faltasse energia para cumprir as tarefas profissionais. Alguns sintomas físicos do transtorno são taquicardia, dor de cabeça, alteração no apetite, insônia e dificuldade de concentração. Para se manterem ativos e dispostos, não é raro que os colaboradores recorram a artifícios perigosos, como excesso de cafeína e, pior, a medicamentos, dando início a um ciclo nocivo à saúde.

Trabalhar é uma das fontes de prazer e realização na vida – para além das questões objetivas, como a financeira. Porém, é preciso saber encaixar o trabalho em uma rotina que respeite a vida pessoal e familiar. Na França, por exemplo, os funcionários conquistaram, em 2017, o direito de ignorar e-mails ou mensagens de celular ligadas ao trabalho em horários de folga.

Um estilo de vida saudável é a melhor defesa não apenas para o burnout, mas também contra todos os outros transtornos mentais e doenças crônicas – como obesidade, diabetes, hipertensão, demências, infarto, acidente vascular cerebral e câncer. A fórmula é acessível à todas as pessoas: alimentação balanceada, sono reparador, consumo moderado de álcool, controle do peso, distância do tabagismo e exames preventivos regulares são verdadeiros aliados da saúde.

Para quem ainda está trabalhando em casa, a prática de exercícios físicos torna-se ainda mais importante. O esporte é uma verdadeira “vacina” contra o estresse. Ele libera uma substância chamada endorfina, hormônio que provoca a sensação de prazer e bem-estar. É hora de voltar a cuidar do corpo e da mente. Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a MedRio Check-up, líder brasileira em check up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).