Exaustão física e emocional levam a sintomas como irritabilidade, ansiedade e insônia entre os profissionais de saúde

 

O ritmo acelerado da vida, a conexão excessiva em celulares e computadores, as muitas horas ligados às edes sociais: eram muitos os fatores que impunham o cansaço extremo até março de 2020. Mas, desde o início da pandemia, esta sensação potencializou-se de forma inequívoca. Sem aviso prévio, os lares transformaram-se em escritórios, misturando-se as fronteiras entre vida pessoal e profissional. As famílias se viram confinadas por tempo demasiado, muitas vezes com filhos tendo aulas online.

Sentimentos como medos, dúvidas, pressão, adoecimento, desemprego e incertezas financeiras trouxeram a fadiga e o estresse. A percepção de exaustão era palpável: o burnout havia acometido boa parte da população.

Classificado como doença pela OMS desde 2019, o burnout pode muitas vezes ser confundido com outros transtornos psiquiátricos. Entre os principais sintomas da doença estão irritabilidade, ansiedade, insônia e alguns sintomas depressivos como falta de vontade de realizar tarefas. O estilo de vida imposto pela pandemia – alimentação inadequada, excesso de consumo de remédios e bebidas alcoólicas, sedentarismo e
alterações do sono – potencializou o quadro já bastante preocupante.

Alguns comportamentos rotineiros que indicam o burnout são trabalhar em horários fora do expediente, dedicar-se ao trabalho aos finais de semana e afastar-se do convívio social e familiar, ou seja, desafios impostos aos profissionais de saúde durante a pandemia. As estatísticas comprovam a exaustão de médicos, enfermeiros e outros profissionais da área de saúde.

Estatísticas comprovam a exaustão de médicos, enfermeiros e outros profissionais da área

 

Segundo levantamento feito com 2.475 médicos pelo site Medscape, o burnout mostrou-se um desafio ainda maior do que o exercício da própria profissão. Cerca de 10% dos médicos chegou a confessar a intenção de largar a Medicina por conta dos problemas impostos pela profissão, como excesso de horas trabalhadas, condições aquém do desejado e baixa motivação.

Um dos personagens mais interessantes da atual temporada da série “Sessão de Terapia” (GloboPlay) é Lidia (Miwa Yanagizawa),
enfermeira da linha de frente que deixa a família para se dedicar ao hospital. Ela acaba enfrentando situações muito fortes, como a perda de pacientes, e colapsa por burnout. Na terapia com Caio (Selton Mello), ela entende o quanto foi exigida. “Somos exigidos como robôs, mas somos humanos. E ainda não podemos fracassar. É muita cobrança”, resumiu a roteirista do programa, Jaqueline Vargas.

Um estilo de vida saudável permite que se viva mais e melhor – não apenas aos profissionais de saúde, mas a toda a população. Hábitos como alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos regulares, noites de sono reparador, consumo moderado de álcool e check-up periódico promovem o bem-estar tão necessário aos tempos que correm. Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a MedRio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” e “Emoções e saúde” (Editora Rocco)