Gigantismo do Brasil é impecilho para plena cobertura de exames ginecológicos. Envato/Reprodução

A MedRio Check Up comemora seus 30 anos de funcionamento neste 2020. Para marcar efeméride tão importante, criamos uma agenda de “Encontros Científicos com a Prevenção”, que acontecem uma vez por mês, abordando diferentes especialidades médicas. Este mês, convidei a renomada colega Claudia Jacyntho para falar sobre a prevenção em doenças ginecológicas. – Gilberto Ururahy

Para abordarmos prevenção em ginecologia, é importante ressaltarmos um grande problema de saúde pública no Brasil: o de câncer de colo de útero. Estimativas do INCA apontam que sejam diagnosticados 16.590 novos casos por cada ano do triênio 2020/2022. Ou seja, quase 50 mil novos casos nos próximos anos. O risco estimado é de cerca de 15 casos a cada 100 mil mulheres. Isso significa a segunda posição dos cânceres femininos.

Hoje, as mulheres contam com vacinas anti-HPV oferecidas na rede privada e no SUS como prevenção primária para o câncer de colo uterino. Apesar da ampla oferta, infelizmente a cobertura vacinal está muito aquém do esperado para vermos diminuição de câncer de colo no futuro.

No entanto, o grupo atendido em clínicas privadas aderiu mais à vacinação. É justamente neste grupo onde percebemos menor ocorrência de câncer cervical uterino, por submeter-se sistematicamente à prevenção com testes de Papanicolaou ou de HPV. A prevenção primária protege contra até 70% dos cânceres cervicais uterinos, por ter eficácia de mais de 90% em relação à infecção persistente pelos HPVs contidos nas vacinas disponíveis (bi e quadrivalentes). Essa taxa aumenta com a vacina nonavalente, que ainda não chegou ao Brasil.

Porque ainda temos incidência tão alta? Porque o Brasil tem dimensões continentais e baixa cobertura da citologia, isto é, a análise das células, parte importante para o diagnóstico de alguns tipos de câncer. Precisamos aumentar a cobertura da citologia, de preferência associada a um teste de DNA-HPV de alto risco para um programa populacional, que diminui o número de falso-negativos da citologia, permitindo espaçar a prevenção secundária diante de testes de HPV negativos. Da mesma forma devemos incentivar a vacinação anti-HPV, vacina efetiva e segura, segundo dados científicos confiáveis.

Depois do câncer de mama, seguramente o câncer de colo uterino está entre os mais importantes na abordagem ginecológica. No entanto, não podemos esquecer do câncer de ovário, com sua alta letalidade; do câncer de endométrio, que vem aumentando sua incidência nos últimos anos; do câncer de vulva, que tanto impacta na qualidade de vida e autoestima das pacientes.

Alguns dos riscos para câncer endometrial são obesidade, síndrome de ovários policísticos, diabete, infertilidade e menopausa tardia. Em relação ao câncer de ovário vale salientar o risco diante do histórico familiar.

A mortalidade global por câncer ginecológico diminuiu em 7,2% para câncer de colo uterino, 11,2% para câncer de corpo uterino, 1,7% para câncer de mama e aumentou 1,1% para câncer de ovário, de 2007 a 2017 (para cada 100 mil mulheres por ano). No Brasil, o câncer ginecológico (mama, colo uterino, endométrio e ovário) representa quase a metade de todos os cânceres que ocorrem nas mulheres.

Nas consultas de prevenção, além dos cânceres ginecológicos, ressaltamos o diagnóstico de doenças benignas de grande importância por causarem dor pélvica crônica e infertilidade, como a endometriose, tumores benignos sintomáticos, distúrbios endócrinos ginecológicos, dentre outros, que devem ser diagnosticadas e tratadas eficientemente para evitar o agravamento do quadro.

Várias infecções sexualmente transmissíveis são prevenidas pela educação ginecológica e diagnósticos precoces com tratamento dos parceiros (as), assim como gravidezes não planejadas. A prevenção em ginecologia, assim como em toda as especialidades da Medicina, é a mola mestra para uma vida com mais qualidade.

Claudia Jacyntho é PhD em Tocoginelocogia pela Unicamp, Mestre em Ginecologia pela UFRJ e Membro titular da Academia de Medicina – RJ/BR.