Um dos principais assuntos na pauta de todas as empresas hoje no mundo atende por uma sigla: ESG (Environmental, Social e Corporate Governance). Em português, pode ser traduzida como as boas práticas  ambientais, sociais e de governança corporativa. Na MedRio Check-up já é uma realidade. Dentre nossas principais ações, lançamos um código de conduta em parceria com os nossos colaboradores; fizemos um extenso para capacitá-los quanto ao trato de dados sensíveis dos clientes, atendendo à segurança exigida pela LGPD; digitalizamos 100% as operações nas nossas unidades, abolindo o uso de papel e compartilhamos com frequência estudos e artigos médicos, para maior informação e conhecimento dos colaboradores e da sociedade.

Os benefícios dessa postura são nítidos: várias empresas que contratam prestadores de serviços, exigem que seus fornecedores de saúde estejam enquadrados na ESG e apresentem evidências dos bons resultados alcançados.

Tive o prazer de moderar a mesa “O conceito ESG e a saúde”, painel da FIS Week, evento que reúne diversos players do setor de saúde. Participaram da conversa o advogado, contador e economista Luis Wolf, líder de ESG e Tax na KPMG Brasil, e a administradora e nutricionista Sheila Mittelstaedt, sócia-diretora Líder de Saúde Brasil da KPMG Brasil.

Luis atentou para o fato de que o conceito de ESG não é exatamente uma novidade. Desde os anos 70, nossa legislação já fala dos cuidados com a comunidade e o meio ambiente. Mas até bem pouco tempo, era uma preocupação esparsa. Um marco de mudança de mentalidade foi a carta que Larry Fink – o CEO da maior gestora de fundos de investimentos no mundo, a BlackRock – divulgou aos CEOS das empresas que recebem investimentos da BlackRock. Na mensagem, de 2020, ele afirmava que não iria mais investir em empresas que não fossem sustentáveis a longo prazo. Para um homem responsável por nortear o investimento de mais de sete trilhões de dólares, foi um recado muito significativo ao mercado.

Luis Wolf salientou que ESG seria a autorregulação do sistema capitalista, para que ele se torne mais sustentável. Não tem nada a ver, de forma direta e objetiva, com política de governo ou de Estado: ESG é a pressão do capitalismo por um mundo novo. Neste contexto, os CEOs entenderam o recado de Fink e estão atentos em fazer uma gestão mais sustentável, que não gere impacto no planeta e nas pessoas. “O futuro não é mais como era antigamente”, citou Luis, se referindo à música da banda Legião Urbana. E não é mesmo. Na esteira do pós-pandemia, há uma nova ordem se desenvolvendo aos nossos olhos, com a agenda verde dominando.

Especificamente no que tange ao setor de saúde, Wolf ressaltou que é fundamental considerar a proteção de dados. Bom mecanismo de segurança cibernética é uma das vertentes que evitam prejuízos  financeiros, de reputação e imagem. “Empresas ESG entregam melhor resultado aos acionistas, os colaboradores trabalham mais estimulados e os consumidores se sentem mais confortáveis para engajamento com seus produtos”, destacou.

Segundo Sheila Mittelstaedt, as empresas de saúde têm a ESG no radar há mais tempo, desde 2004, quando os pilares social, ambiental e de governança passaram a estar atrelados aos resultados financeiros: bancos e corretoras começaram a avaliar investimentos em empresas que tivessem maior definição e sustentação nas áreas ESG.

Mittelstaedt informou que serviços de saúde, como laboratórios, hospitais e clínicas, geram mais de três mil toneladas de resíduos infectantes. A maioria desse montante é direcionado a lixões e não para aterros sanitários, podendo gerar consequências à saúde da sociedade. Tais resíduos dos serviços de saúde contaminam as águas, como rios e lagoas, e trazem consequências ambientais e sociais.

No pilar social, a especialista destacou que as empresas estão atentas às questões de inclusão, diversidade e representatividade no seu quadro de colaboradores, assim como seu bem-estar no ambiente de trabalho, especialmente durante a pandemia: como os colaboradores são acolhidos, treinados e apoiados.

Na área de governança, para além da governança corporativa, como seguranças de dados, há a atenção à governança clínica, ou seja, uma nova camada assistencial alinhada à governança maior da da instituição – como o paciente é cuidado e como ele recebe alta, evitando que ele retorne ao sistema de saúde com complicações ou efeitos adversos. As inovações – como telehealth ou telemedicina – precisam andar em compasso com a segurança de dados e segurança cibernética, caso contrário, não atendem à agenda ESG.

Mittelstaedt ressaltou que o tema ESG é cada vez mais presente na esfera da gestão executiva: nas conversas de planejamento estratégico das empresas de saúde, no manejo seguro dos contratos e dos pacientes atendidos dentro dos ambientes hospitalares e ambulatoriais.

“Who cares, win”, citou a especialista. Quem cuida, ganha. Se os três temas ESG – governança, responsabilidade social e ambiental – não forem cuidados dentro das corporações, algo está sendo feito de errado e não terá a sustentabilidade que o negocio precisa para a longevidade esperada por qualquer empresário.

Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. É diretor da MedRio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).