Segundo pesquisa recém divulgada pelo Instituto do Sono, 55,1% dos brasileiros confirmam que a qualidade do sono caiu desde o início da pandemia. Motivos não faltam para os brasileiros passarem as noites em claro: desemprego, instabilidade econômica, uso excessivo de telas e falta de exercícios físicos fizeram com que as pessoas dormissem menos e tivessem um sono pior, pouco regenerador para enfrentar o dia seguinte. Face à mudança abrupta que vivemos, como o isolamento e o medo de contrair o vírus, nosso corpo responde com a produção grande de adrenalina. Este hormônio do estresse é um potente estimulante que conduz o indivíduo à insônia.

   Cerca de 35% dos indivíduos que recebemos em nossas clínicas convivem com importantes alterações do sono, quase o dobro se compararmos com as estatísticas de 2019. O fenômeno não se limita apenas ao Brasil. De acordo com a Associação Brasileira do Sono (ABS), 34% das pessoas em todo o mundo estão padecendo com insônia. 

   Noites mal dormidas acarretam consequências danosas, como queda na produtividade, comprometimento do desempenho intelectual, intensificam o mau humor e aumentam os atritos interpessoais. Em casos mais graves, podem causar distúrbios cardiovasculares, com aumento considerável de risco de AVC, de infarto e de diabetes, em decorrência da resistência à insulina. 

    Da mesma forma, em nossas clínicas, observamos grande número de clientes com peso acima do ideal e que convivem com a Síndrome da apneia / hipopneia obstrutiva do sono. Sabemos que indivíduos com alterações do sono apresentam desequilíbrio na relação entre os hormônios gastrintestinais: grelina e leptina. A grelina aumenta o apetite e provoca a lipogênese (aumento de gordura) e a leptina produz saciedade e a queima energética, ou seja, a insônia é um fator predisponente para obesidade.

   O indivíduo que tem um sono irregular, acorda cansado, não tem ânimo para prática de atividade física e acaba procurando por alimentos energéticos, tais como cafeína e açúcares que acabam por retroalimentar esse distúrbio. 

   O sono é um dos três pilares, além da atividade física e da alimentação balanceada, para a busca da longevidade com autonomia. Nas consultas médicas pós-check-up médico orientamos nossos clientes em função de seu estilo de vida, momento em que levamos em consideração o tripé acima mencionado.

    A pesquisa do Instituto do Sono traz ainda outro alerta perigoso: o crescimento vertiginoso do consumo de remédios para dormir. Houve um aumento de 85% no número de brasileiros que confirmaram fazer uso de medicamentos que induzem o sono ao menos uma vez por semana.

   Algumas orientações que podem ajudar a ter uma noite de sono reparadora são evitar o consumo de bebidas alcoólicas, cafés e estimulantes antes de deitar; criar uma rotina de horários para se deitar e acordar; preparar um ambiente agradável para dormir, ficando atento à luminosidade, temperatura e barulhos. Outros gatilhos que devem ser evitados são o cigarro, a alimentação volumosa poucas horas antes de se deitar e uso de aparelhos eletrônicos na cama.

    Por mais difícil que possa parecer, é preciso evitar pensamentos em problemas e a tentação de organizar o dia seguinte, mentalmente. O sono é o momento em que o cérebro deve estar se preparando para repousar. A prática de exercício físico durante o dia também é um poderoso aliado para que o sono seja repousante.

   Nos check-ups médicos modernos é fundamental oferecer ao cliente uma avaliação e orientação sobre o seu sono. O sono sem roncos, repousante e natural (não induzido por medicamentos), reduz a possibilidade de a pessoa desenvolver doenças crônicas além de fortalecer o sistema imunológico.

   Dormir bem é fundamental para se ter mais saúde e qualidade de vida. Saúde é prevenção!

 

Dr. Mônica Tavares, Endocrinologista,
gerente médica da MedRio Check-up, para a revista Mais Sampa.