As doenças geradas pelo isolamento atingem percentual significativo da população

 

Uma faceta trágica deste momento foi o afastamento de muitos pacientes de seu acompanhamento clínico de rotina.

 

Desde o início da pandemia, usamos este espaço para alertar os leitores da importância de manter a realização de exames preventivos e consultas regulares a médicos. Uma faceta trágica deste momento foi o afastamento de muitos pacientes de seu acompanhamento clínico de rotina, devido ao pânico desmedido do contágio. O triste resultado disso estamos observado agora.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia já havia alertado que as mortes em casa, por problemas cardíacos, aumentaram 30%, chegando a impressionantes 16 mil óbitos de março a maio. Esta semana, a Fiocruz apresentou novos dados estarrecedores. Segundo a Fundação, o número de óbitos em casa, por causas naturais, cresceu 53% em quatro capitais do Brasil – Rio, São Paulo, Manaus e Fortaleza – de 15 de março a 13 de junho, saltando de 6.378 no ano passado para 9.773 este ano.

De maneira geral, mortes em casa são quase sempre evitáveis. A chegada do novo coronavírus não extinguiu as ocorrências de infartos e acidentes vasculares, por exemplo. A pandemia causou mortes diretas, por Covid-19, mas também indiretas, por falta de assistência médica especializada, a outras doenças. Portadores de diabetes, hipertensão e doenças respiratórias simplesmente ficaram desassistidos de seus acompanhamentos médicos por medo de sair de casa.

Na esfera da saúde mental, houve crescimento de ansiedade, insônia, irritabilidade, medo e desesperança com o futuro. Casos de estresse pós-traumático começam a se apresentar neste momento de relaxamento do isolamento, diante da dificuldade das pessoas em retomarem suas rotinas, bruscamente interrompidas há meses. Sem citar o trauma de quem foi impedido de cumprir os rituais de despedida e enterro de seus entes queridos.

O fato é que não há razão aceitável para que uma pessoa seja surpreendida – ou mesmo venha à óbito – por doenças que podem ser prevenidas ou controladas. Com a flexibilização das atividades, mais que nunca urge que a população procure os médicos e fortaleça a saúde. Saúde é prevenção!

Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a Med Rio Check Up, líder brasileira em check up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).